Fonte: O Globo
O jornal da Santa Sé "L'Osservatore Romano" informou que a Igreja perdoou John Lennon por ter declarado que os Beatles eram mais populares do que Jesus Cristo. Segundo o Vaticano, foram palavras de um jovem às voltas com a fama instantânea. As palavras do mais polêmico beatle enfureceram os setores cristãos da sociedade americana que queimaram cartazes, discos e revistas com reportagens sobre a banda.
O artigo do jornal saúda dos 40 anos do álbum branco dos Beatles faz grandes elogios ao quarteto. "O fato é que 38 anos após o rompimento, as canções de John Lennon e Paul McCartney mostraram uma extraordinária resistência à passagem do tempo, tornando-se uma fonte de inspiração para mais de uma geração de músicos pop," afirmou o jornal, porta-voz oficial da Santa Sé.
"A declaração de John Lennon, que provocou tanta indignação nos Estados Unidos, depois de todos estes anos soa como uma bravata de um jovem proletário inglês às voltas com um sucesso inesperado", arremata o "Osservatore".
A declaração de Lennon foi feita à jornalista Maureen Cleave do jornal "London Evening Standard", publicada na Inglaterra em quatro de março de 1966 sem causar qualquer polêmica; "O cristianismo vai acabar. É fora de discussão, você verá que estou certo. Somos mais populares do que Jesus hoje em dia. Não sei qual vai acabar primeiro, se o rock'n'roll ou a cristandade. Jesus era legal mas seus discípulos eram grossos e broncos. O fato de distorcerem tudo é que arruína tudo para mim," disse John Lennon.
Em julho do mesmo ano, uma revista jovem americana publicou a frase com destaque sem o restante das palavras de Lennon. Várias emissoras de rádio baniram as músicas, jovens religiosos queimaram discos, livros, revistas, posters e houve manifestações diante de locais onde eles se apresentaram na América, uma delas da Klu Klux Klan, a organização branca racista que assassinou centenas de negros no Sul dos Estados Unidos.
John teve que se explicar: "Se eu tivesse dito que a televisão é mais popular do que Jesus Cristo nada teria acontecido. Eu estava falando com uma amiga e usei a palavra Beatles como uma coisa remota e não como os Beatles que nós somos e que as pessoas conhecem. Eu só disse que 'eles' estavam influenciando mais os jovens do que qualquer outra coisa, incluindo Jesus, mas eu disse daquela maneira que era a maneira errada."
O baterista Ringo Starr foi mais cínico. Ele disse que para ele estava tudo bem se queriam quebrar os discos, porque para fazê-lo eles tinham primeiro que comprá-los. Lennon sempre teve uma postura descrente sobre as religiões. Em seu primeiro disco solo, de 1970, a canção "God" afirma que "Deus é um conceito que usamos para medir nossa própria dor".