Lizzie Bravo já gravou com os Beatles
e vai lançar um livro sobre a história.
“Quais de vocês conseguem segurar uma nota aguda?”, perguntou Paul McCartney. Lizzie Bravo, na época com apenas 15 anos, rapidamente levantou a mão. Minutos depois, ela se tornaria a única brasileira a gravar junto com os Beatles. O convite foi direcionado a um grupo de fãs que fazia vigília na porta dos estúdios Abbey Road, em Londres, onde o quarteto gravava o álbum "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", em 1967. Com o Fabfour, ela fez o backing vocal da canção "Across the Universe", versão que foi gravada no álbum "Past Masters Vol. 2". Agora, sua filha, Marya Bravo, de 37 anos, é uma das estrelas do musical "Beatles Num Céu de Diamantes", que estreia nesta sexta, em São Paulo. A canção, claro, está no musical e é interpretada por todo o elenco num dos últimos capítulos da apresentação (veja mais abaixo).
Dentro do estúdio, na fervilhante Londres da década de 60, Lizzie preferiu se conter e se comportar como profissional. “Era a minha única chance de ser algo a mais do que uma simples fã. Rimos e nos divertimos muito”, conta Lizzie, hoje uma fotógrafa e empresária de 57 anos. “Pediram para eu cantar uma canção em ‘brasileiro’, mas eu preferi não cantar. Hoje penso que talvez eu poderia ter cantado uma bossa nova.”
"Across de Universe" foi ‘lançada ao espaço’ pela Nasa, no dia 4 de fevereiro de 2008, quando completou 40 anos de gravação, em direção à estrela Polaris, a 431 anos-luz de distância da Terra. Mais tarde, Lizzie e seu grupo de amigas seriam batizadas de "Apple Scruffs" (mal ajambradas da Apple) e ganhariam até uma música, Apple Scruffs, composta por George Harrison e gravada em seu álbum solo "All Things Must Pass".
Lizzie também está escrevendo um livro para contar tudo o que passou junto aos Beatles. O trabalho, que ela considera “enorme”, ainda não tem data para ser lançado. Segundo a empresária, são mais de 200 itens, sendo 100 fotos inéditas que fez do grupo nos anos de 1967 a 1969. “São imagens supercoloridas. Eles usavam aquelas roupas espalhafatosas da época”, conta. “Transcrevi meus diários e o livro será escrito em primeira pessoa, para que todo mundo sinta a mesma coisa que senti.”
A beatlemaníaca diz que manuseia suas relíquias com luvas e não tem coragem de delegar o trabalho para ninguém. “Eu mesma estou digitalizando tudo. São peças muito raras.” Entre elas, está uma luva marcada com a poeira do carro de John Lennon, bilhetes de metrô para a Abbey Road, ingressos para shows, autógrafos e outras preciosidades.
Na apresentação de amanhã, sua filha, Marya, fará os solos das canções "While My Guitar Gently Weeps", "I Want To Hold Your Hand" e "Blackbird". A mãe, é claro, estará na plateia em todas as apresentações desse final de semana e promete ficar à disposição de quem quiser conversar e ouvir sobre como Lizzie foi parar em Londres. “Para mim, é muito simbólico”, diz Marya, atriz e cantora especializada em musicais. “Passei minha vida inteira ouvindo Beatles com a minha mãe. Ela é uma celebridade no mundo dos beatlemaníacos. É um momento especialíssimo da minha carreira.”
Já na ‘carreira’ da mãe, o momento especial começou com o pedido de uma viagem de aniversário para os pais. O motivo? Ver os Beatles em Londres. “Cheguei no dia 14 de fevereiro de 1967, encontrei com uma amiga na estação de trem, deixei minhas coisas no hotel e fui direto para a porta da EMI, na Abbey Road”, diz Lizzie. Chegando lá, para a surpresa da adolescente, logo no primeiro dia, viu os quatro entrando para gravar. “John e Ringo me cumprimentaram. Pouco depois, George e Paul saíram”, conta Lizzie, que ainda na véspera estava em sua casa, no Rio de Janeiro.
Nesta época, a banda lançou os compactos "Penny Lane/Strawberry Fields" e o álbum "Sgt. Peppers". Além dos Beatles, Lizzie conheceu Mick Jagger, do Rolling Stones, viu o show de Jimi Hendrix, no Saville Theater, com Paul tocando "Garota de Ipanema" e teve seus discos autografados pela banda. “John tinha raspado o bigode na véspera.”
A viagem que seria de apenas alguns meses foi estendida indefinidamente. “Ligava para meus pais e dizia que não voltaria nunca mais. Eles me diziam que não mandariam mais dinheiro. Aí eu arrumei um emprego”, lembra. Na capital inglesa, Lizzie trabalhou em um pequeno hotel e como babá. “Até hoje tenho contato com as meninas que ficavam lá na porta da gravadora.” Uma delas também escreveu um diário e mandou a cópia para Lizzie. “Vou incluir o que ela escreveu no meu livro.” De volta ao Brasil, trabalhou como fotógrafa e foi dona de uma editora. Depois de lançar o livro sobre os Beatles, Lizzie pretende lançar outro só com fotos de músicos da MPB. Já a filha, Marya, vai levar a turnê com os Beatles até para o exterior.
Clássicos do quarteto de Liverpool em 13 vozes
O musical "Beatles Num Céu de Diamantes", que estreia amanhã, às 21h30, no Teatro das Artes, tem no palco 13 vozes acompanhadas por um piano, um violoncelo e uma percussão. Bem diferente da mistura de bateria, guitarra, baixo e voz do quarteto de Liverpool. Apesar de as músicas serem as mesmas, mudam os arranjos. Uma coisa, porém, é semelhante: ambos são sucessos de público.
Depois de ser consagrado no Rio de Janeiro, o espetáculo chega a São Paulo com uma temporada que vai até o dia 28 de junho. A princípio, o musical tinha sido concebido para ser apenas uma apresentação simples, sem cenário ou figurinos elaborados, para ficar em cartaz na arena do Sesc de Copacabana, no verão do ano passado. “Lógico que as músicas ajudam, mas esta não é a chave do sucesso. Se fosse assim, qualquer pessoa que tocasse Beatles em barzinhos atrairia multidões. É uma proposta musical original”, diz Claudio Botelho, um dos diretores do show.
Ao contrário dos outros musicais, este não tem diálogos. São 50 canções dos Beatles, entre elas "Strawberry Fields Forever", "Help!", "Hey Jude", "Eleanor Rigby", "Let It Be" e "I Want to Hold Your Hand", interpretadas por músicos e atores que contam a história de uma menina que resolve sair de casa e ganhar o mundo. “É uma alusão a "Alice No País das Maravilhas", porque John Lennon adorava essa história”, explica o diretor.
Gottsha, uma das solistas da peça, conta que ficou surpresa com o sucesso. “Todos os atores do musical estavam de férias. Nós atuávamos no musical 'Sete', de Ed Motta. Aí fomos chamados para fazer o espetáculo. O sucesso foi tão grande que não voltamos para o 'Sete'”, diz Gottsha. “As músicas que interpretamos mexem com sentimentos como nostalgia, medo, alegria, felicidade, compreensão e amor”, completa.
A solista destaca também que não se trata de um show de covers. “Até porque são cinco mulheres e oito homens em cena”, diz. “Não interpreto nenhum personagem. Ali, no palco, eu sou eu mesma, sem máscaras, cantando as músicas dos Beatles. Conhecia as canções, mas só fiquei fã depois do espetáculo.”
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