quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Livro disseca solo por solo, música por música, álbum por álbum


Por: Felipe Branco Cruz, do Jornal da Tarde

Muitos livros já foram publicados sobre os Beatles abrangendo praticamente tudo. Desde fofocas e brigas até análises em profundidade das gravações no estúdio Abbey Road, em Londres. Então, por que lançar mais um? Isney Savoy, da editora Larousse, responde: “O foco agora não são as intrigas. O trabalho faz análise inédita apenas da música.” O livro em questão é o "The Beatles – Gravações Comentadas e Discografia Completa", lançado pela Larousse.

Escrito pelo britânico Jeff Russel, nascido em Liverpool, cuja a vida foi praticamente dedicada a pesquisas sobre o grupo, o livro apresenta a discografia completa, com notas dos bastidores das gravações. São informações sobre cada canção lançada oficialmente, os títulos, as faixas (com a duração), as datas de lançamento, os créditos dos compositores e comentários sobre cada faixa. Na introdução, Russel justifica sua pesquisa. “Não há nada mais a ser dito? Ao contrário. Muito ainda pode ser dito sobre a razão de ser dos Beatles. Sua música e, sobretudo, seus álbuns.”

Durante anos os mesmos álbuns que eram lançados no Reino Unido saíam em outros países retalhados pelas gravadoras que mudavam o desenho da capa, a sequência das canções e até cortavam músicas para lançar dois LPs em vez de um e faturar mais. A prática foi comum nos Estados Unidos e no Brasil. Por isso, Isney Savoy, de 57 anos, fã da banda, foi recrutado para incluir na obra um capítulo com a discografia brasileira. “Os álbuns dos Beatles no Brasil tiveram algumas particularidades. Por isso, os discos lançados por aqui são raridades”, diz Savoy, que começou a ouvir Beatles quanto tinha apenas 12 anos.

Dentre as características dos álbuns brasileiros está uma falha na canção "Penny Lane", no álbum "The Beatles Forever", de julho de 1972, lançado apenas por aqui como uma coletânea aleatória que reúne músicas de "Magical Mystery Tour" e outras faixas de compactos duplos. A falha mostra um corte brusco após o verso “Full of fish and fingerpies”. “Foi uma falha no disco matriz recebido da Inglaterra. Como os brasileiros achavam que os Beatles faziam coisas inovadoras, acharam que a falha era proposital”, explica Savoy.

Graças a essas mudanças feitas pelas gravadoras de outros países, os Beatles passaram a exigir que seus álbuns fossem lançados da mesma forma no mundo inteiro. “Eles criaram o conceito de álbum, com as canções seguindo uma sequência. Antes, cada país incluía as músicas em qualquer ordem, de acordo com o que eles imaginavam que o mercado local gostaria mais”, diz. Uma das exigências da banda era que nunca fossem lançadas coletâneas. Recomendação ignorada no Brasil, já que por aqui foram lançados títulos como "Juventude em Brasa", "O Mundo em Suas Mãos – Vol. 3" e "Ídolos da Juventude – Vol. 2", todos de 1965.

Contra o retalhamento feito nos Estados Unidos, a banda decidiu protestar e a capa do disco "The Beatles Yesterday and Today" (lançado apenas nos Estados Unidos em junho de 1966) saiu com eles vestidos de açougueiros segurando pedaços de carne e bonecas decapitadas. O público reagiu e não gostou, tanto que a capa foi substituída por outra mais comportada. O exemplar é hoje extremamente cobiçado entre os fãs da banda.

Em seguida, a banda lançou "Revolver", em agosto de 1966. O livro conta uma curiosidade do trabalho. Na canção de abertura, "Taxman", quem toca o solo de guitarra não é George Harrison, mas sim Paul McCartney (apesar da canção ser de autoria de Harrison). Na última do álbum, "Tomorrow Never Knows", o mesmo solo de "Taxman" é executado de trás para frente, por Harrison.

O livro abre com a história do primeiro álbum da banda, batizado de "The Early Tapes of the Beatles", gravado em Hamburgo, Alemanha, em 1961. Eles tocam seis canções com o cantor Tony Sheridan, mas uma outra banda também aparece no LP, a "The Beat Brothers".

No dia 9/9/2009, a história da banda será ‘passada a limpo’
Para o fã médio de Beatles, pouco importa se uma canção foi lançada com ‘overdubs’ no disco tal e, anos depois, relançada na forma crua em uma coletânea especial. O que dificulta ainda mais para quem quer ter a coletânea é entender quais são realmente os títulos e canções lançadas originalmente pela banda no Reino Unido e, claro, se esses discos estão disponíveis para a compra.

Para alegria desses fãs (e também dos fanáticos), no próximo dia 9 de setembro, a EMI lançará o catálogo completo da banda remasterizado. A data coincide com o lançamento mundial do game ‘Beatles Rock Band’.

A coleção compreenderá os 12 álbuns, que serão lançados com a arte original do Reino Unido, além da trilha sonora de ‘Magical Mystery Tour’. A coletânea ‘Past Masters Vol. 1 e 2’, será compilada em apenas um disco. Ao todo, a caixa trará 16 CDs. Os álbuns estarão disponíveis para compra em uma caixa especial. O valor do mimo ainda não foi definido pela EMI.

Dentro da caixa de cada CD, os encartes incluirão observações históricas, junto com notas informativas sobre a gravação. Cada disco trará gravado em formato Quick Time (para ser assistido no computador) um mini documentário e fotografias do grupo durante as gravações. Uma das novidades desta remasterização será o lançamento dos primeiros álbuns da banda em estéreo. Os originais haviam sido lançados apenas em mono. Para os fanáticos, uma segunda caixa será lançada contendo as gravações em mono.

Ele fez do cinema a sua escola

Escritor David Gilmour conta ao JT como educou
seu filho rebelde apenas vendo bons filmes

Por: Felipe Branco Cruz, do Jornal da Tarde

O canadense David Gilmour, autor de "O Clube do Filme", não imaginava que o livro fosse capaz de vender meia dúzia de cópias na vizinhança, quanto mais estar entre os mais vendidos do Brasil, Canadá e Alemanha. “Todo mundo gosta de uma boa história e acho que é isso que os leitores encontram no meu livro”, diz. “Nunca sabemos o que vai dar certo. Apenas acontece. É um mistério.”

A tal boa história surgiu da relação pessoal entre ele e seu filho Jesse. Quando tinha apenas 16 anos, o menino acumulava notas baixas e diversas reprovações. Sem saber o que fazer, o pai decidiu tomar uma drástica decisão: deixá-lo abandonar a escola com a condição de assistir semanalmente a três filmes que o pai escolhesse – e o garoto não poderia sair da frente da TV até que o longa terminasse.

“Disse ao Jesse que ele poderia dormir até tarde e fazer o que quisesse, mas teria de ver os filmes. E, se ele se envolvesse com drogas, o acordo estava cancelado”, conta o autor, que está no Brasil com o filho e conversou com o JT ontem, no Parque do Ibirapuera, com exclusividade.

“Li os originais do livro antes de meu pai entregá-los à editora. No primeiro momento, fiquei horrorizado, porque a obra falava muito da minha vida pessoal, meu envolvimento com drogas e desilusões amorosas”, conta Jesse. E tratar desses temas de forma natural, segundo Gilmour, é um dos objetivos do Clube do Filme. “O livro fala da relação entre um pai e um filho, não sobre cinema. Aquele foi um período muito importante para Jesse, pois ele estava se transformando em um homem. E também para mim, que buscava estabilidade profissional.”

Crítico de cinema, ex-apresentador de um programa sobre o assunto na TV canadense e âncora de talk-show, Gilmour estava desempregado e com o dinheiro contado quando escreveu o livro. Por isso, pai e filho tinham muito tempo para passarem juntos. “Como eu havia sido afortunado (embora certamente não parecesse assim) por não ter um emprego, por ter tido tanto tempo livre à disposição. Dias, tardes e noites. Tempo”, escreve Gilmour em uma das passagens.

As lições que o filho aprendeu foram, assim, ensinadas por diretores e atores como Marlon Brando, Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick, Jack Nicholson, entre outros figurões. Uma delas veio com "Interlúdio" (1946), de Hitchcock. No livro, Gilmour desafia o filho: “Pedi a Jesse que prestasse atenção em alguns detalhes do longa, como a escadaria da casa do vilão, no Rio de Janeiro. De que tamanho ela era? Quanto tempo alguém levaria para descê-la? Não expliquei o motivo da pergunta”, escreve o autor. A lição serviria mais tarde para lecionar a Jesse o que é suspense, pois Hitchcock, nas cenas finais, adicionou degraus na escada para o vilão demorar mais tempo para descer. “E você sabe por que Hitchcock é famoso? Pelo suspense”, completa.

Ao todo, a dupla assistiu, em três anos, a 350 filmes (no final da obra, há uma providencial filmografia, com todos eles). Quando Jesse completou 20 anos, o clube foi desfeito. “Uma hora, ele teria de acabar”, lamenta o pai. Jesse finalmente voltou a estudar e, claro, entrou para o ramo de cinema. Ele já escreveu, dirigiu e interpretou um curta-metragem – "The Tide" (A Maré) – e está com um roteiro pronto, vendido a alguns produtores de cinema canadense.

Do Brasil, pai e filho citam como bons filmes "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", "Cidade de Deus", "Central do Brasil" e "Pixote". “A ação em Cidade de Deus é fantástica. A cena da galinha, então...”, analisa o pai. Ao final da entrevista, os dois ainda comentaram que se impressionaram com o vasto conhecimento dos brasileiros sobre cinema. “Vocês realmente amam o assunto”, diz Gilmour.

Foi inevitável, portanto, o papo não acabar nas preferências cinematográficas de cada um (leia o resumo nos quadros abaixo).“'Showgirls' é o pior filme já feito. 'O Poderoso Chefão 2' é o melhor de todos os tempos. No Canadá, nosso homem é David Cronenberg, o único diretor bom do país. 'O Exorcista' é o filme mais assustador que eu já vi e um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos é 'Apocalipse Now'”, resumiu Gilmour. O filho discordou em alguns pontos. “Hoje em dia, eu acho 'Nascido Para Matar', do Stanley Kubrick, melhor do que 'Apocalipse Now', de Francis Ford Coppola.” Então, tá.

OS FILMES DE DAVID GILMOUR

DAVID CRONENBERG
“David Cronenberg é o melhor diretor canadense. Ele é o nosso homem no cinema. Fez ‘A Mosca’, que é ótimo. Mas o melhor filme dele é ‘Uma História da Violência’, com Viggo Mortensen. Perfeito. Acho que todos os estudantes de cinema deveriam ver este filme.”

O EXORCISTA
“‘O Exorcista’ é o mais assustador filme de terror já produzido. Até hoje eu tenho calafrios. Na primeira vez em que fui ao cinema assisti-lo, saí do cinema nos primeiros 15 minutos. Na segunda, saí aos 30. Apenas na terceira vez o vi até o fim – mas com os ouvidos tampados.”

NASCIDO PARA MATAR
“Diria que ‘Nascido para Matar’, do Stanley Kubrick, é um filme sintético, não passa o real sentimento do Vietnã. Diria que existe apenas uma grande cena, quando os soldados seguem um tanque de guerra. Para mim, Kubrick fez só um longa bom, que é ‘O Iluminado’.”

SHOWGIRLS
“Não consigo imaginar um filme pior do que ‘Showgirls’. E o mais grave é que ele foi feito por um bom diretor: Paul Verhoeven (de ‘Robocop’). Um amador faria um filme melhor do que esse. É um diretor talentoso, mas fez um filme ofensivo, vulgar e nojento.”

APOCALIPSE NOW
“É uma verdadeira obra de arte, mas com um grande problema. Até Marlon Brando aparecer, o filme vai muito bem. Quando o ator surge, acaba roubando a cena, como uma tempestade. Então, o filme passa a ser só dele. O ator domina todas as cenas.”

O PODEROSO CHEFÃO II
“Entre todos os grandes filmes, ‘O Poderoso Chefão 2’ é o melhor cinema que já vi na vida. E este é o tipo de frase que só podemos dizer uma vez. É como os Beatles para a música: a banda está sempre no topo. É desta maneira que vejo ‘O Poderoso Chefão 2’.”



Posts relacionados:

Related Posts with Thumbnails