Por: Felipe Branco Cruz
Fonte: Jornal da Tarde
Aos 68 anos, Paul McCartney continua dando o que falar. Está noivo da empresária nova-iorquina Nancy Shevell, de 51 anos, e frequentemente tem dito que pretende lançar novos discos. Com um legado incontestável, é alvo de inúmeras biografias. Por isso, a pergunta que se faz é: o que um novo livro poderia acrescentar à história do músico, principalmente com sua veemente recusa em colaborar com a obra?
Quem responde é o jornalista americano Peter Ames Carlin, autor de Paul McCartney – Uma Vida, lançado recentemente no Brasil. “Paul nunca fala para biógrafos, com a única exceção de Barry Miles, que é amigo dele desde os anos 1960 e lançou a obra Many Years From Now”, explica. “Cada biógrafo tenta focar uma parte específica da complexidade que é o personagem. Na minha, explorei como ele se reinventou após o fim dos Beatles, renegando seu passado. Agora, no século 21, de como ele se tornou o embaixador dos Beatles para os mais jovens.”
O autor inicia o livro com a descrição de um show que Paul fez em Liverpool, sua cidade natal, no dia em que fez 66 anos. A partir dessa apresentação, Carlin conta sobre os ancestrais do músico, descendentes de irlandeses que imigraram para a cidade para trabalhar.
Apesar de não ter entrevistado Paul, Carlin acompanhou durante quase dois anos os passos do músico e baseou sua pesquisa em documentos da época, além de entrevistas com pessoas próximas do ex-Beatle, como os músicos do Wings. Mas nem todo esse levantamento impediu que a obra fosse criticada por não ter novas informações. “Acho que o coração deste livro captura seu amadurecimento e as raízes de sua criatividade”, diz.
As 400 páginas da obra, no entanto, não se aprofundam na história de Paul. Trata-se de um livro para quem ainda não conhece a trajetória do músico e funciona como uma excelente porta de entrada para aqueles que querem conhecer melhor a biografia do artista. “A vida de Paul se torna muito mais excitante depois do fim dos Beatles. Imagine alguém aos 27 anos, que pertenceu a uma das maiores bandas do mundo, ter de se reinventar?”
Dicotomia criativaNa obra, o autor afirma ainda que a parceria com John Lennon promoveu uma dicotomia capaz de fazer aflorar a criatividade de ambos. Mesmo depois da morte de John, Paul teve de lidar com o mito e a sombra do amigo. A influência da mãe de Paul na vida do músico também é tratada pelo autor, já que ela morreu quando ele tinha apenas 14 anos. Aliás, foi a morte da mãe de Lennon, alguns anos depois, que ajudou a dupla a ficar ainda mais próxima. “A morte dela inspirou uma profunda paixão pelo seu trabalho”, analisa o escritor americano.
O livro termina com os desdobramentos da batalha judicial que Paul enfrentou, em 2008, para se separar de sua ex-mulher Heather Mills, que ganhou o direito a receber 24 milhões de libras com o fim do casamento. A nova namorada de Paul, e agora noiva, Nancy Shevell, também é citada, mas de forma bem superficial.
Carlin não é nenhum novato no ramo das biografias. É de sua autoria também Catch a Wave, sobre a história de Brian Wilson, dos Beach Boys. E há dois anos ele trabalha na biografia de Bruce Springsteen, prevista pera ser publicada em 2012. Paul McCartney – Uma Vida mereceu pelo menos um elogio que vale ser salientado, feito por Bob Spitz, autor de uma das mais importantes biografias dos FabFour, The Beatles: “Carlin faz um retrato franco e revelador por trás do mito de Paul McCartney.”A declaração é parte do texto que está na contracapa.
‘Como concorrer com os Beatles?’Peter Carlin tentou entrevistar Paul McCartney, mas ele não quis conversa. O autor foi atrás de outras fontes e escreveu uma biografia focada na carreira do músico após o fim dos Beatles.
O que esta biografia tem de diferente em relação a outras sobre Paul McCartney?Tem novas perspectivas até então desconhecidas (ou pouco conhecidas), além de histórias e insights sobre a vida de Paul. É o primeiro livro que trata de sua carreira solo com o mesmo cuidado e respeito que foi feito com os Beatles.
Por que você não entrevistou Paul para escrever o livro?Tentei, mas a posição dele é definitiva. Ele não fala com biógrafos, a não ser que tenha algum contrato com eles, como fez com Barry Miles, autor de Many Years from Now e amigo de longa data.
Se Paul McCartney lhe desse 20 minutos para um rápido bate-papo, que perguntas você faria?Perguntaria sobre sua relação com a música: como ele se sente quando ouve uma canção que realmente o comove, como se sente quando está imerso em seu processo criativo.
Como é escrever sobre uma pessoa viva e produtiva?Espero que o livro fique desatualizado e que Paul continue a trabalhar, criar e construir mais coisas. A vida continua e o homem trabalha, trabalha, trabalha. Mesmo assim, a essência do livro capta seu crescimento e as raízes de sua criatividade.
Você acredita que a maior dificuldade de Paul é competir com o seu próprio legado?Claro que sim. Como alguém poderia tentar concorrer com os Beatles? Só porque você foi um deles – um dos dois membros-chave, na verdade – a coisa não fica mais fácil. Imagine acordar aos 27 anos e perceber que você já fez o trabalho mais importante de sua vida? Que você mudou o mundo de duas ou três maneiras distintas e não importa o que você faça, será sempre comparado com o que você fez quando era jovem? Isso é difícil.
O que podemos esperar de Paul McCartney nos próximos anos?Mais do mesmo, suspeito. Mais músicas, álbuns, performances. O homem vive, respira e transpira música. É sua expressão de vida. Ele só vai parar quando seu coração parar de bater. E espero que isso demore muito tempo.